Numa série que recentemente vi, um veterano da política, raposa velha e sabedor de todos os truques da comunicação, dizia à sua protegida (que viria a ser Presidente da República) antes de um comício importante: “vais chegar ao palanque, terás centenas de pessoas aos gritos à tua frente e as luzes dos holofotes vão cegar-te completamente. Não verás nada do que tens escrito no papel. Nessa altura levantarás a cabeça e farás uma pausa até que a mancha de luz desapareça e aí verás claro. Poderás então com calma começar a falar, bem devagar, articulado e então, quando puseres alma no discurso, todos se calarão, primeiro, e por fim serás ovacionada”. Lembro-me sempre disto quando recordo as sessões de trabalho com a Inês.
Incansável, ensinou-me a dizer melhor as palavras, a ouvi-las, a apreciar cada uma delas antes de as partilhar com os outros sem medo e sobretudo a não trocar a alma pela técnica, a pausa pela correria. Incansável e paciente também nas inúmeras opiniões, sugestões, propostas, às gravações que lhe fui enviando… sempre desafiando a ir mais além.
Pegando nas palavras de Hemingway, (as palavras, sempre as palavras!), após o trabalho e a orientação da Inês, passei a dizê-las e a ouví-las como se fosse a primeira vez.